terça-feira, 13 de setembro de 2011

Correios diversificam oferta de serviços

Empresa investiu pesado em máquinas e tecnologias para bater de frente com a popularização dos e-mails e torpedos via celular

Felipe Lima - Jornal do Commercio

Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS) tentou lutar. Investiu pesado em máquinas e tecnologias para bater de frente com a popularização dos e-mails e torpedos via celular. Prometeu entregar cartas no mesmo dia da postagem. Mas o nocaute veio agora. A instituição está quebrada e o calote no salário dos funcionários está próximo. No Brasil, o quadro é totalmente inverso. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), somente neste primeiro semestre de 2011, obteve lucro de R$ 499,6 milhões, 48,3% acima do registrado no mesmo período de 2010. O segredo foi não subir ao ringue contra a internet, e sim diversificar os negócios. Direcionou a maior parte dos investimentos para incrementar o serviço de entrega de encomendas e demais soluções. E com a reforma realizada em seu estatuto este ano, poderá agora ter participação acionária em outras companhias e internacionalizar operações.


As cartas pessoais representam atualmente apenas 0,01% do serviço de mensagens dos Correios. A esmagadora maioria refere-se a documentos e correspondências comerciais. São contratos fechados com bancos, tribunais de Justiça, órgãos públicos e com o comércio. Esse segmento de atuação ainda é responsável pela maior parte do faturamento da empresa. Em 2010, renderam R$ 6,02 bilhões, algo em torno de 47,44% das receitas. Porém, as encomendas crescem vertiginosamente e começam a ameaçar a liderança. Nos primeiros seis meses deste ano, o Sedex cresceu 18% e o serviço de envio não expresso subiu 21%.


O bom momento reflete-se no poder de fogo dos Correios. A previsão de investimentos até 2015 é de R$ 4 bilhões. É quase a metade do que o USPS pediu de socorro (US$ 5,5 bilhões, o que representa R$ 9,2 bilhões pelo câmbio de ontem) para não fechar as portas. Para se ter uma ideia, a empresa brasileira já manifestou interesse até em participar como “sócio estratégico” da operação do Trem de Alta Velocidade (TAV), mais conhecido como trem-bala.

O analista de planejamento dos Correios em Pernambuco Heyder Barbosa lembra que a internet, que no começo se mostrou ameaçadora, hoje é aliada. O comércio eletrônico representa receitas para os Correios, responsável pelo transporte dos produtos de determinados sites. “O investimento foi pesado e voltado para manter a regularidade, a praticidade, agilidade e comodidade dos serviços de encomendas. Cartas pessoais e telegramas ficaram estagnados, diminuem a participação no negócio da empresa ano a ano”, resume.

Os resultados financeiros do primeiro semestre deverão ser ainda melhores na segunda metade de 2011. É que no balanço será incluída a receita de R$ 2,3 bilhões oriunda da licitação do Banco Postal, cujo vencedor foi o Banco do Brasil. Apesar de realizada em maio, o contrato só foi assinado em julho.

Por todos esses motivos não é de se espantar que os Correios sejam uma das empresas do governo federal cujos cargos de direção são os mais cobiçados. Após a hegemonia do PMDB ao longo do governo Lula, está agora nas mãos do PT com Dilma Rousseff. O interesse político arranhou a imagem da empresa anos atrás. O mensalão, maior crise da gestão anterior, teve seu início após denúncias de corrupção envolvendo o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, ligado ao ex-deputado federal, Roberto Jefferson (PTB).

Outra polêmica que envolve a instituição é a do monopólio do serviço de cartas no País. Decisão de 2009 do Supremo Tribunal Federal (STF) assegurou a exclusividade dos Correios. Porém, já acionaram o Judiciário em mais de uma oportunidade para monopolizar também outros serviços, como o envio de cartões de crédito e talões de cheque, considerados em algumas decisões da Justiça como cartas e em outras, desfavoráveis aos Correios, como encomendas. O capítulo mais recente da novela aconteceu no final de agosto, quando a Associação Brasileira de Empresas de Distribuição (Abraed) chegou a acionar o STF para rever a definição do serviço, mas acabou desistindo do recurso.

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