'Minha missão é fazer dos Correios uma Petrobras'
Jornal Zero Hora
10/07/2011
Há seis meses, um ex-sindicalista tenta recuperar a imagem dos Correios, a estatal com maior número de empregados do país. Economista, especializado em gestão financeira, Wagner Pinheiro deixou o comando do milionário fundo de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros) em janeiro e desde então preside a empresa, que não vinha sequer conseguindo honrar prazos de entrega das correspondências. Neste período, ele promoveu um concurso para a contratação de mais de 9 mil funcionários.
Natural de Campinas (SP), o presidente está na órbita petista desde o período Lula. Ligado ao PT, conta com a confiança do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
A missão dele, porém, não é fácil: transformar os Correios em uma empresa moderna e do porte da Petrobras. Pinheiro recebeu Zero Hora para uma entrevista no 19º andar do edifício sede da empresa,em Brasília, na quarta-feira.
Zero Hora – Há um ano, o então ministro das Comunicações disse que os Correios estavam em crise. O senhor conseguiu resolver esses problemas?
Wagner Pinheiro – Já mudou bastante. Não temos dívidas atrasadas e praticamente normalizamos a entrega de encomendas e cartas. A partir deste mês, passamos a contratar 9.190 novos trabalhadores. Tivemos regiões com problemas de entrega nos últimos meses, mas organizamos forças-tarefas e enviamos pessoas tanto da administração central como servidores de outras regiões para normalizar os serviços.
ZH – Qual era a situação da empresa quando o senhor assumiu? Havia um caos nos Correios?
Pinheiro – Não. A orientação da presidente Dilma é modernizar a empresa, fazer dos Correios uma Petrobras da área de logística, um Banco do Brasil.
ZH – Quanto tempo ela lhe deu para fazer isso?
Pinheiro – O governo dela termina em 2014, né? Ela espera que a direção dos Correios esteja à altura da credibilidade que a sociedade brasileira dá à instituição. Mas não disse: "vá lá e se vire". Ela mudou o estatuto dos Correios, que não era atualizado há 32 anos.
ZH – Na prática, o que significa atualizar o estatuto?
Pinheiro – Uma medida provisória que está no Congresso muda o objeto social da empresa para podermos operar no Exterior e termos subsidiárias, participações minoritárias. Os instrumentos dessa legislação nos impõem maior transparência. Vai fazer com que a gente atualize nossa forma de gestão, com a obrigação de gerar mais eficiência.
ZH – O senhor tem orçamento para fazer essa modernização?
inheiro – A empresa é superavitária. No ano passado, obteve lucro de R$ 800 milhões e tem recurso em caixa para investimentos. Nossa proposta para os próximos quatro anos é praticamente de R$ 4 bilhões. São investimentos em infraestrutura, tecnologia de informação, modernização da rede de informática e possíveis investimentos como parcerias minoritárias em empresas de logística. É um estudo que depende de decisão no conselho de administração, sempre por orientação do governo, que tem 100% do capital.
ZH – Quando o senhor assumiu, falava num novo modelo para os franqueados. Como está isso hoje?
Pinheiro – Vamos fazer uma nova licitação na última semana de julho. A legislação aprovada no Congresso determina que o novo modelo poderia ser implementado até outubro de 2012.Isso deu prazo para quem hoje está no modelo atual possa migrar para o novo modelo, mas tem que ganhar licitação.
ZH – Já houve várias denúncias de que as franquias eram distribuídas entre afiliados de políticos ou para próprios políticos. O novo modelo acaba com essa brecha?
Pinheiro – Quando foi criado esse modelo, era uma concessão de pontos de atendimento. Então, era uma decisão da empresa, que dava a concessão para alguém que se interessava em fazer a gestão de uma agência terceirizada num ponto em que os Correios precisavam. Agora teve uma primeira licitação e nós consideramos que ela teve um êxito razoável.
ZH – Hoje, há uma carência de agências no Brasil?
Pinheiro – Não. Mas vamos fazer essa licitação para ficar com todas as agências fraqueadas dentro do modelo de licitação e não mais de concessão do direito de uso. Quem já tem a concessão vai poder participar. No Rio Grande do Sul, nós temos no antigo modelo 91 agências franqueadas.
ZH – O senhor assumiu dizendo que até 2014 pretende atender a 100% da população. Passado seis meses, o senhor diria que isso ainda é possível?
Pinheiro – É o nosso objetivo e faz parte do plano estratégico para o final de 2014. Hoje atendemos 85%.
ZH – Como está o projeto do Correio Digital?
Pinheiro – Nós recebemos todos os arquivos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Ou por meio eletrônico, ou digitalizamos os arquivos, que são remetidos para instâncias superiores ou para outros Estados. Já estamos trabalhando com isso em vários Estados e estamos negociando com o Rio Grande do Sul. É a primeira experiência organizada e corporativa do Correio Digital.
ZH – E o Sedex, como melhorar?
Pinheiro – O transporte aéreo noturno, que impacta diretamente nas encomendas expressas, está normalizado. Fizemos as licitações das áreas que estavam sem atendimento, e isso voltou a operar normalmente desde abril. Temos um projeto-piloto em São Paulo , que está começando a funcionar na região de Bauru. Serão mais de cem carteiros que entregam Sedex e trabalham com um celular para facilitar o acompanhamento e agilizar a entrega. O objetivo é estender para todo o Brasil em um ano.
ZH – Um dos problemas dos Correios é a imagem, que ficou comprometida com a crise. Como resgatá-la?
Pinheiro – Você está dizendo que a imagem dos Correios teria sido afetada em função de problemas de ordem administrativa. Mas, quando a empresa me mostra as pesquisas recentes, estamos atrás apenas da família e dos bombeiros no índice de confiança da população. O nosso projeto é fazer esse patrimônio público ter uma nova credibilidade.
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